Bangu e América se enfrentam amanhã no tradicional e acanhado estádio de Moça Bonita, em jogo válido pela sexta rodada do returno do Campeonato Estadual do Rio de Janeiro. Ambos fazem boa campanha na Taça Rio e ainda sonham com uma vaga nas semifinais da competição. O Bangu é o quarto colocado do Grupo A com nove pontos ganhos, quatro a menos do que os líderes Fluminense e Flamengo; enquanto o América é vice-líder do B com dez pontos, mesma pontuação do líder Botafogo e um a mais do que o Vasco, que vem em terceiro. Tem tudo para ser um jogo interessante.
Interessante é pouco. A constatação é triste, mas esse confronto hoje não é a sombra do que já foi um dia. O cronista é do tempo em que América e Bangu tinham grandes estrelas no time, cobertura diária na imprensa esportiva, resultados expressivos em âmbito estadual e nacional, infernizavam a vida dos grandes do Rio e jogavam entre si no Maracanã, às vezes até com transmissão da TV (a TVE exibia no final da noite de domingo, depois da mesa redonda, o VT completo do principal jogo da rodada).
Exagero? Não! A mais pura verdade. Vejam só: levando-se em consideração apenas os sete ou oito primeiros anos da década de 80 - que também foram os últimos de glórias dos dois clubes -, o Bangu, bancado pelo seu patrono Castor de Andrade (lembram daquele castorzinho no lado direito da camisa banguense?), foi finalista dos estaduais de 1983, 1985, vice-campeão nacional também em 1985 (perdeu a final para o Coritiba num Maracanã lotado por mais 90 mil torcedores, depois de eliminar Internacional e Vasco), participou da Libertadores de 1986 e foi campeão da Taça Rio em 1987. O América foi campeão do Torneio dos Campeões e da Taça Rio em 1982, vice-campeão da Taça Guanabara em 1983 e terceiro colocado do Brasileiro de 1986 (eliminou o Corinthians nas quartas-de-final). Nessa época, o estádio Caio Martins era apelidado de “Caldeirão do Diabo”. O Mecão dificilmente perdia lá dentro.
Era tarefa das mais fáceis encontrar jogadores renomados nos quadros de Bangu e América. Não lembram? Então vamos refrescar a memória: Mococa, Rubéns Feijão, Moisés, Arturzinho, Mario, Gilmar, Ado, Israel, Perivaldo, Fernando Macaé, Márcio Rossini (atenção: quem quebrou a perna do Zico foi Márcio Nunes), Marinho, Claudio Adão, Paulinho Criciúma, Neto (ele mesmo, o do Corinthians), Edvaldo e Mauro Galvão jogaram no clube de Moça Bonita. Jorginho (lateral tetracampeão), Duílio, Airton, Pires, Elói, Luisinho, Gilson Gênio, Gilcimar, Moreno, Renato, Paulo Sérgio, Donato, Waldir Peres, Muricy (Ramalho), os irmãos Kel e Zó, Gilberto, Régis, Polaco, Renê, Paulo Vitor, Denílson e Maurício (autor do gol que tirou o Botafogo da fila em 89) vestiram a camisa rubra. Quem viveu nesse tempo, sabe que é fácil montar um ou dois timaços com os nomes acima.
A última vez que América e Bangu participaram da elite do futebol brasileiro foi na Copa União 1988 (aquela que quando as partidas terminavam empatadas eram decididas nos pênaltis e que o Bahia de Bobô se sagrou campeão). Os dois acabaram rebaixados e a partir daquele momento começaram um irreversível processo de apequenamento. Há quem acredite que a decadência do futebol carioca se confunda com a decadência dos rubros e alvirrubros. Faz sentido.
Infelizmente quem nasceu há menos de trinta anos não conhece a importância dessas centenárias instituições para esporte do Rio de Janeiro. E não será agora que vai conhecer. Afinal, não estarão em campo os craques do passado, a TVE não existe mais, a cobertura da grande imprensa ignora solenemente América e Bangu, pouco mais do que uma centena de torcedores deverá comparecer a Moça Bonita... Bons tempos do nosso futebol eram aqueles que, definitivamente, não voltam mais. Nunca mais.